Ontem um amigo que morou na
Alemanha se queixava da pouca importância dada no Brasil aos nossos
folcloristas. Disse que na Alemanha as crianças são apresentadas aos contos
recolhidos pelos irmãos Grimm ainda na primeira infância. Aqui, as crianças
estão aprendendo folclore via Maurício de Sousa. E não é por falta de bons livros.
A coleção Histórias à Brasileira, da Companhia
das Letrinhas, traz vários contos folclóricos nacionais recontados por Ana
Maria Machado e ilustrados por Odilon Moraes. Quem conhece as histórias de
Grimm vai encontrar várias semelhanças, explicadas pela nossa história colonial,
que mescla tradições folclóricas europeias, indígena e africana. Os contos que
compõem essa coleção foram recolhidos por Ana Maria Machado a partir do legado
de autores como Luís da Câmara Cascudo, Sílvio Romero, Monteiro Lobato, Couto
de Magalhães, entre outros. Mas não é indispensável atualizar estas velhas e
eternas histórias para apresentá-las às crianças. Vamos direto à fonte.
Há algum tempo temos trazido da
biblioteca infantil os livros da coleção Contos de Encantamento, publicados na
primeira década deste nosso século pela editora Global. São quatro livros e
cinco contos: Couro de piolho, Maria Gomes, A princesa de Bambuluá, O
marido da Mãe d'Água e A princesa e o
gigante (estes dois últimos publicados em um único volume). Os textos foram
extraídos da obra Contos tradicionais do
Brasil (Global, 2000), de Câmara Cascudo, e publicados nesta colação com
belíssimas ilustrações de Cláudia Scatamacchia.
É incompreensível que Cascudo não
figure de maneira sistemática nos currículos escolares. Se fosse por falta de
uma apresentação visual adequada às crianças, esta coleção da Global viria
eliminar qualquer desculpa. Se as histórias são fascinantes, o texto traz
marcas de uma oralidade ao mesmo tempo popular e erudita que delicia os
ouvidos. Cito um trecho do conto A
princesa de Bambuluá, que conta a peregrinação do herói João:
"No
quarto dia de viagem viu uma casinha no alto de uma serra, lá em cima, muito
alvinha. Subiu com dificuldade e bateu palmas um tempo sem fim. Finalmente
entrou e deparou um velho, velho, velho, tão velho que vivia dentro de uma
cabaça, enrolado em pasta de algodão e suspenso em cima do fogo."
Os livros nós temos, e são
tesouros. A grande questão é: o que está entrando entre as crianças e os
livros?
Nenhum comentário:
Postar um comentário