quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Adeus, Cosac



Agora é definitivo: ainda por um pouco de tempo, encontraremos no site da Amazon – e somente nele – os livros da Cosac Naify a preço de banana. As fábulas completas de Esopo, numa edição linda com capa texturizada, com tradução direta do grego pela professora da Unesp Maria Celeste Dezzoti; Onde vivem os monstros, clássico da literatura infantil estadunidense, por Maurice Sendak; Eça de Queirós ilustrado para crianças; autores como Jutta Bauer e John Burningham, além de outros tantos livros infantis, livros teóricos, livros de literatura, arte, cinema, moda, enfim, os temas da Cosac.

Não me deterei sobre o que significa o fim da editora para a literatura e a arte em geral; permaneço na seara da literatura infantil.

Que a Cosac produziu livros de qualidade gráfica sem precedentes no Brasil, com papeis especiais, capas em tecido, cintas, luvas, transparências, já se falou pela imprensa. Para a literatura infantil, a editora trouxe ainda aqueles livros estranhos, que eu chamaria de livros infantis para adultos. E se pouco posso dizer acerca do retorno financeiro de outros segmentos literários da Cosac, pela literatura infantil ela certamente não poderia se segurar.

John Burningham, por exemplo, autor da série Shirley e de Vovô, livros lindos que trabalham os universos infantil e adulto em diferentes estéticas – aquarelas vibrantes para a imaginação da criança, desenhos simples e descorados para a realidade adulta –, aparentemente não teve muita saída. Pelo que me recordo, há pelo menos uns dois ou três anos seus livros vêm sendo vendidos por valores que oscilam entre R$11,00 e R$20,00 nas liquidações da Cosac. E essas liquidações, diga-se de passagem, acontecem pelo menos desde que virei cliente fiel da editora, há uns seis anos.

Se foram as liquidações que me permitiram ter um bom acervo infanto-juvenil de livros da editora, elas certamente eram um indicativo da crise que levaria Charles Cosac a anunciar seu fechamento em dezembro do ano passado. Fora das promoções, os livros eram praticamente inacessíveis – pelo menos para compras em grandes quantidades, como sempre fiz. Caros, porque eram produto fino, de grife, tanto por seu conteúdo literário quanto pelo suporte.

Como a editora se financiou durante todos esses anos é uma questão a ser debatida pelos especuladores. Porque, aparentemente, a Cosac Naify nunca foi um negócio lucrativo: produzia livros de alto custo para um mercado despreparado para recebê-los.

Lamentamos, porque havia livros que só a Cosac publicava e haverá livros que jamais serão aqui publicados enquanto não surgir outro milionário apaixonado por arte e literatura para financiá-los. A Cosac foi um fenômeno contemporâneo de mecenato, como fazia Gertrude Stein adquirindo e colecionando obras dos artistas das vanguardas do início do século XX.

A editora despede-se entrando para a história. Resta a nós, pesquisadores, roer esse osso, documentando o que for possível de sua produção enquanto os livros ainda estão disponíveis.