Esta é a pergunta que eu mais
ouço quando digo que pesquiso literatura infantil. Pais e mães relatam que não
sabem como selecionar um bom livro para seus filhos nas livrarias. Quando falo
que tenho um blog sobre o assunto, buscam aqui recomendações, ou
"dicas" de livros. De fato, faço aqui o que chamei de crítica
literária amadora (ou semi-amadora, ou semi-acadêmica) de livros infantis. Por
aí é possível que meus leitores encontrem algo de interesse. Afinal, é função
da crítica despertar o desejo do contato direto com a obra.
Mas minha escrita é lenta e
espaçada, e cobre muito pouco do universo de obras literárias para crianças
disponíveis no mercado, nacionais ou traduzidas. Quem vier aqui encontrará mais
uma reflexão sobre as obras que propriamente indicações de compra.
"Eu queria uma lista",
disse a mãe de um colega da minha filha. É evidente que existe uma quebra na
mediação da leitura. De maneira geral, não há adultos leitores para legarem às
crianças este hábito, como se diz, que prefiro chamar de amor pela literatura.
É difícil transmitir aos nossos filhos, netos, alunos, sobrinhos etc. algo que
nos falta, que não é exatamente nosso métier.
(Esta é uma reflexão que ultrapassa a literatura: que herança cultural e
afetiva temos para legar aos nossos descendentes? Habilidades artesanais,
sabedorias, dons artísticos, intuições? Ou estamos só pagando contas?)
Uma boa maneira de começar é
buscar os livros de que você gostava quando era criança. Muitos ainda podem ser
encontrados. Mary e Eliardo França (coleção Gato e Rato), Ziraldo, Ruth Rocha,
Ana Maria Machado, clássicos como Lúcia
já vou indo, de Maria Heloísa Penteado...
Se suas memórias de leitura se
perderam num abismo, pois bem, façamos as listas. Se nos sentimos incapazes de
julgar um bom ou um mau livro, honesto aquele que busca indicações com quem tem
mais repertório.
Desnecessário que eu apresente
aqui uma seleta própria de livros infantis. Há muitas instituições que fazem
isso. Sugiro, portanto, algumas fontes onde os adultos podem procurar títulos
já triados, e evitar gastar dinheiro com os maus livros:
- A Revista Crescer divulga
anualmente uma lista com os 30 melhores livros. Trata-se de uma instituição com
fins lucrativos, que tem no júri vários nomes ligados a editoras. Ainda assim,
não é uma seleção que se despreze, e é um bom começo para quem não tem ideia do
que comprar.
- A Fundação Nacional do LivroInfantil e Juvenil (FNLIJ) é uma excelente referência. Além dos livros
premiados em várias categorias, a FNLIJ tem o selo Altamente Recomendável, mais
uma lista de livros que deveriam compor bibliotecas infantis. Os jurados são
pessoas experientes no ramo.
- O Programa Nacional Bibliotecada Escola (PNBE), que distribui (distribuía? continuará distribuindo?) livros para
escolas públicas, divulga em seu site os títulos que compõem os acervos, por
nível de ensino. A seleção tem sido feita pelo Centro de Alfabetização, Leitura
e Escrita (Ceale), da UFMG, por professores extremamente competentes. É só ver
o que o governo comprou e comprar igual.
As listas, acervos, prêmios fazem
um recorte nesse universo tão heterogêneo que é o mercado editorial infantil.
Escolher livros a partir daí, quando não se têm muitas
referências próprias, é um caminho. E que os adultos tomem tempo para ler junto
com as crianças, e assim ir preenchendo esses vazios da memória.