Agora é definitivo: ainda por um
pouco de tempo, encontraremos no site da Amazon – e somente nele – os livros da
Cosac Naify a preço de banana. As fábulas completas de Esopo, numa edição linda
com capa texturizada, com tradução direta do grego pela professora da Unesp
Maria Celeste Dezzoti; Onde vivem os
monstros, clássico da literatura infantil estadunidense, por Maurice
Sendak; Eça de Queirós ilustrado para crianças; autores como Jutta Bauer e John
Burningham, além de outros tantos livros infantis, livros teóricos, livros de literatura,
arte, cinema, moda, enfim, os temas da Cosac.
Não me deterei sobre o que
significa o fim da editora para a literatura e a arte em geral; permaneço na
seara da literatura infantil.
Que a Cosac produziu livros de
qualidade gráfica sem precedentes no Brasil, com papeis especiais, capas em
tecido, cintas, luvas, transparências, já se falou pela imprensa. Para a
literatura infantil, a editora trouxe ainda aqueles livros estranhos, que eu
chamaria de livros infantis para adultos. E se pouco posso dizer acerca do
retorno financeiro de outros segmentos literários da Cosac, pela literatura
infantil ela certamente não poderia se segurar.
John Burningham, por exemplo,
autor da série Shirley e de Vovô, livros lindos que trabalham os
universos infantil e adulto em diferentes estéticas – aquarelas vibrantes para
a imaginação da criança, desenhos simples e descorados para a realidade adulta –,
aparentemente não teve muita saída. Pelo que me recordo, há pelo menos uns dois
ou três anos seus livros vêm sendo vendidos por valores que oscilam entre R$11,00
e R$20,00 nas liquidações da Cosac. E essas liquidações, diga-se de passagem,
acontecem pelo menos desde que virei cliente fiel da editora, há uns seis anos.
Se foram as liquidações que me
permitiram ter um bom acervo infanto-juvenil de livros da editora, elas
certamente eram um indicativo da crise que levaria Charles Cosac a anunciar seu
fechamento em dezembro do ano passado. Fora das promoções, os livros eram
praticamente inacessíveis – pelo menos para compras em grandes quantidades,
como sempre fiz. Caros, porque eram produto fino, de grife, tanto por seu
conteúdo literário quanto pelo suporte.
Como a editora se financiou
durante todos esses anos é uma questão a ser debatida pelos especuladores. Porque, aparentemente, a Cosac Naify nunca
foi um negócio lucrativo: produzia livros de alto custo para um mercado
despreparado para recebê-los.
Lamentamos, porque havia livros
que só a Cosac publicava e haverá livros que jamais serão aqui publicados
enquanto não surgir outro milionário apaixonado por arte e literatura para
financiá-los. A Cosac foi um fenômeno contemporâneo de mecenato, como fazia
Gertrude Stein adquirindo e colecionando obras dos artistas das vanguardas do
início do século XX.
A editora despede-se entrando
para a história. Resta a nós, pesquisadores, roer esse osso, documentando o que
for possível de sua produção enquanto os livros ainda estão disponíveis.